Encontrei um texto sobre a música minimalista em filmes e gostei muito. Muito mesmo.
http://sibilante.wordpress.com/2009/05/23/sobre-a-musica-minimalista/
"1-Por que a música minimalista serve tão frequentemente ao cinema?
2-Por que o sentimento particular de melancolia mesclada a uma alegria infantil? Como isso acontece simplesmente?
3-O que há de errado nas pessoas que criticam tal música julgando-a simplesmente como repetitiva?
Tentando especular sobre algumas questões como essa, acabamos nos enrolando em fios de longas meadas, que vão com frequência dar em praias distantes e de difícil acesso a amadores e leigos, entre os quais estou. A substância do cinema como arte, a estrutura do som e a cognição humana, a educação (ou falta dela). Podemos tentar? Podemos. Não se vai para a cadeia por simplesmente… pensar.
Phillip Glass e “The Hours”:
Porque o cinema é movimento e memória. E a repetição de temas e microtemas, com suas pequenas nuances até transformar-se em uma grande massa de água sonora, faz da música minimalista um pano de fundo irrestistível para a sétima arte, já que ela vai participar do movimento visual e da emoção sem estar ali, sem estar sob foco, sem participar como estrela óbvia. Ela vai promover o grande cenário sonoro para que as imagens reinem soberanas, e entretanto será o coração pulsante das cenas. Ela pode permear, como uma pequena lembrança que se transforma num grande trauma ou numa imensa e doce recordação de infância, toda a vida, ou seja, todo o filme, toda a sua alma. Os filmes com música minimalista deixam um rastro sonoro. Mesmo que nos esqueçamos da música, pode-se ouvi-la com o coração horas depois. E ao ouvi-la sem ver o filme, podemos reconstruí-lo com suas cenas, e sentir novamente seus sabores e pequenos aromas. Quem não pensa em Amélie Poulain ao ouvir o genial multi-instrumentista Yann Tiersen?
Video com a música “La Plage”, do francês Yann Tiersen:
Porque a melancolia é previsível na estrutura específica da música minimalista, sabendo-se o quão previsível pode ser um ser humano às vezes diante de certos fenômenos, como reflexos. Como desce fácil um intervalo de quinta justa, e como é frequente na música ocidental. Transmite universalmente a certeza e uma nobreza tipicamente antropocêntricas. Os intervalos menores, e as tonalidades menores, ao contrário, transmitem sempre uma tristeza, ou no mínimo um leve estupor reflexivo. Não vêm fácil. Mas como produzir melancolia e uma suave doçura terna de memória da infância, uma alegria pueril, ou mesmo ironia? Ainda preciso estudar muito para descobrir. Deixo para os professores de harmonia e os especialistas responderem.
Nyman e seu piano:
Muita gente ainda diz que não é música para ser ouvida fora do cinema, apesar de ter sido concebida como um projeto intelectual por si mesmo, fora dos estúdios cinematográficos. Há quem diga que é repetitiva, o que é uma crítica óbvia, já que a repetição é o truque e o coração da estrutura deste tipo de música. Tiersen, por exemplo, se utiliza muito da repetição, mas reforça a riqueza e variedade de instrumentos e sons, que tornam a coloração única, uma música de vivacidade extrema, uma sonoridae completamente particular. Como quem se deleita com muitos doces e salgados e bebidas inebriantes… mas é um tema básico. Isso faz reconhecer um músico nato. Música é estruturada em temas simples, que se evolam e desenvolvem com estruturas matemáticas construídas em cima de si mesmas.
Dar-se a liberdade de ser simples para alcançar a complexidade. E daí o céu, o mar sob rochedos, com suas eternas ondas, que mudam apenas de frequência e tamanho, mas nunca de padrão."
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
domingo, 19 de fevereiro de 2012
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