segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Encontrei um texto sobre a música minimalista em filmes e gostei muito. Muito mesmo.
http://sibilante.wordpress.com/2009/05/23/sobre-a-musica-minimalista/

"1-Por que a música minimalista serve tão frequentemente ao cinema?
2-Por que o sentimento particular de melancolia mesclada a uma alegria infantil? Como isso acontece simplesmente?
3-O que há de errado nas pessoas que criticam tal música julgando-a simplesmente como repetitiva?

Tentando especular sobre algumas questões como essa, acabamos nos enrolando em fios de longas meadas, que vão com frequência dar em praias distantes e de difícil acesso a amadores e leigos, entre os quais estou. A substância do cinema como arte, a estrutura do som e a cognição humana, a educação (ou falta dela). Podemos tentar? Podemos. Não se vai para a cadeia por simplesmente… pensar.

Phillip Glass e “The Hours”:


Porque o cinema é movimento e memória. E a repetição de temas e microtemas, com suas pequenas nuances até transformar-se em uma grande massa de água sonora, faz da música minimalista um pano de fundo irrestistível para a sétima arte, já que ela vai participar do movimento visual e da emoção sem estar ali, sem estar sob foco, sem participar como estrela óbvia. Ela vai promover o grande cenário sonoro para que as imagens reinem soberanas, e entretanto será o coração pulsante das cenas. Ela pode permear, como uma pequena lembrança que se transforma num grande trauma ou numa imensa e doce recordação de infância, toda a vida, ou seja, todo o filme, toda a sua alma. Os filmes com música minimalista deixam um rastro sonoro. Mesmo que nos esqueçamos da música, pode-se ouvi-la com o coração horas depois. E ao ouvi-la sem ver o filme, podemos reconstruí-lo com suas cenas, e sentir novamente seus sabores e pequenos aromas. Quem não pensa em Amélie Poulain ao ouvir o genial multi-instrumentista Yann Tiersen?

Video com a música “La Plage”, do francês Yann Tiersen:


Porque a melancolia é previsível na estrutura específica da música minimalista, sabendo-se o quão previsível pode ser um ser humano às vezes diante de certos fenômenos, como reflexos. Como desce fácil um intervalo de quinta justa, e como é frequente na música ocidental. Transmite universalmente a certeza e uma nobreza tipicamente antropocêntricas. Os intervalos menores, e as tonalidades menores, ao contrário, transmitem sempre uma tristeza, ou no mínimo um leve estupor reflexivo. Não vêm fácil. Mas como produzir melancolia e uma suave doçura terna de memória da infância, uma alegria pueril, ou mesmo ironia? Ainda preciso estudar muito para descobrir. Deixo para os professores de harmonia e os especialistas responderem.

Nyman e seu piano:


Muita gente ainda diz que não é música para ser ouvida fora do cinema, apesar de ter sido concebida como um projeto intelectual por si mesmo, fora dos estúdios cinematográficos. Há quem diga que é repetitiva, o que é uma crítica óbvia, já que a repetição é o truque e o coração da estrutura deste tipo de música. Tiersen, por exemplo, se utiliza muito da repetição, mas reforça a riqueza e variedade de instrumentos e sons, que tornam a coloração única, uma música de vivacidade extrema, uma sonoridae completamente particular. Como quem se deleita com muitos doces e salgados e bebidas inebriantes… mas é um tema básico. Isso faz reconhecer um músico nato. Música é estruturada em temas simples, que se evolam e desenvolvem com estruturas matemáticas construídas em cima de si mesmas.

Dar-se a liberdade de ser simples para alcançar a complexidade. E daí o céu, o mar sob rochedos, com suas eternas ondas, que mudam apenas de frequência e tamanho, mas nunca de padrão."

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Esse esforço pelo entrosamento. Essa preocupação pelo distanciamento.
Não deveria existir esse tipo de esforço. Não quero esse tipo de preocupação.
Quero a naturalidade do sentimento.
Quero o tempo perdido sendo resumido à nada.
Quero zelo por parte dos outros.

Cansei desse tipo de intranquilidade.